domingo, 15 de junho de 2014

Texto de Enquadramento das Metas Curriculares

Introdução 


Uma tendência curricular internacional, marcante desde o início do presente 
século, é a explicitação e especificação, por parte de cada país, dos conhecimentos 
que os alunos devem alcançar e das capacidades que devem desenvolver em cada 
disciplina. A especificação destas duas componentes – conhecimentos e capacidades 
– tem adotado a designação de standards, ou, no caso de Portugal, de metas, antes 
designadas por “metas de aprendizagem” e agora designadas por “metas curriculares”. 
Trata-se de documentos relativos aos diversos níveis de escolaridade, mas com 
anualização das aquisições pretendidas. 

As metas curriculares constituem, pois, a par dos programas disciplinares, os 
documentos orientadores do ensino e da avaliação, sendo que os segundos enquadram 
a aprendizagem, enquanto as primeiras a concretizam. 

A necessidade de construir metas curriculares é sentida pelos países que 
procuram uma aproximação de políticas educativas, com particular destaque para as 
de avaliação dos sistemas de ensino, através de programas como o PISA, o TIMSS, e 
o PIRLS. 


A uniformização curricular, subjacente à construção das metas, é, assim, uma 
opção estratégica que se fundamenta no facto de, ao facultar-se a todos os alunos, por 
via da escolaridade, o que é essencial aprender em cada disciplina, se estar a laborar 
no sentido da concretização do princípio da igualdade de oportunidades, que tem 
conduzido a escola ocidental. É, ainda, admitido que à escola cabe um papel 
fundamental no desenvolvimento dos alunos, pelo que se preconiza que o currículo 
deva ser construído de modo a que possa promover as capacidades cognitivas de 
todos. Nesta lógica, a tarefa de construção das metas curriculares implica decisões que 
se passam a enunciar: 

- As metas são únicas, devendo, nessa medida, ser alcançadas por todos os 
alunos, permitindo, assim, uma igualdade de oportunidades; 
- O nível de aprendizagem estabelecido deve traduzir um compromisso entre o 
nível médio e o nível alto, condição para que se promova o desenvolvimento de todos. 
 Na elaboração das presentes metas, seguiram-se, como acontece em qualquer 
documento curricular, algumas linhas orientadoras alicerçadas em teorias da 
aprendizagem e da instrução. Das teorias da aprendizagem, ressaltam-se aquelas que, 
sendo recentes, salientam a importância de aspetos como o conhecimento, a memória, 
a compreensão e a resolução de problemas. 
É atualmente reconhecido que ser-se especialista numa área envolve a posse de 
um conjunto alargado de conhecimentos solidamente adquiridos, os quais podem ser 
facilmente recuperados e usados de forma flexível, numa determinada situação. Tal 
facto implica que, ao nível da aprendizagem escolar, se deva investir na aquisição e 
desenvolvimento do conhecimento, seja ele factual, concetual, procedimental ou 
metacognitivo. 
A memória e a compreensão constituem processos fundamentais na aquisição, 
integração e recuperação do conhecimento. A compreensão, entendida como 
resultando do desenvolvimento contínuo e gradual de um conjunto de conhecimentos 
adquiridos previamente, não se opõe, assim, à memorização, antes dependendo dela. 
Ambas – memorização e compreensão – suportam, em grande parte, o recurso a 
estratégias necessárias à resolução de problemas. Acresce, ainda, referir, como 
importante na aprendizagem, as limitações temporais – de apenas alguns segundos – e 
de armazenamento – retenção de pouca informação – da memória a curto prazo. 
As limitações da memória a curto prazo e o facto de o desenvolvimento de 
certas capacidades e conhecimentos depender de outros adquiridos previamente estão 
na origem de uma importante prescrição das teorias da instrução que nortearam a 
redação das presentes metas e que preconiza a necessidade de se organizar a 
aprendizagem em sequências coerentes que respeitem a ordem de aquisição das 
capacidades e dos conhecimentos envolvidos num determinado domínio académico. 
Do mesmo modo, seguindo um dos princípios essenciais das teorias da 
instrução, foi nossa intenção que nas presentes metas ficasse clara a relação entre o 
que se pretende que o aluno aprenda – conhecimento ou capacidade – e os processos 
envolvidos nessa aprendizagem. É assim que nos objetivos e, sobretudo, nos 
descritores, se procurou que estes dois aspetos fossem articulados, através de uma 
formulação que evidenciasse, através de um verbo, o processo necessário à aquisição 
e desenvolvimento do conhecimento ou capacidade em causa.  
Em suma, as atuais metas curriculares, sendo fiéis aos princípios em se baseiam, 
identificam e operacionalizam os desempenhos que traduzem os conhecimentos a 
adquirir e as capacidades a desenvolver pelos alunos, respeitando a sua ordem de 
progressão e tendo em consideração os processos necessários a essa mesma aquisição 
e desenvolvimento. 
 
 
Referências bibliográficas: 
 
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Smith, P., & Ragan, T. (1999). Instructional design (2nd ed). Danvers: John Wiley. 

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